terça-feira, 27 de abril de 2010

Ressaca moral

Eu quis não respirar, talvez quisesse mas a vontade de gritar era tanta que o ar não entrava e mal saía dos meus pulmões. Mas que droga, uma parte do mundo diz que nunca vai estar tudo bem na vida, então eu tentei respirar mais um pouquinho. Vai ver as pessoas tem razão. Mas tava ficando cada vez mais difícil, mas ai outra parte do mundo disse que a vida é isso ai mesmo, uma hora se perde, outra se ganha, então forcei tudo que deu, mas já não dava mais, eu to cansada, muito cansada de tudo isso me prendendo, dessa coisinha inútil chamada dia-a-dia, eu rezo todo noite, para que cada dia passe cada vez mais rápido, eu dou graças a Deus quando me deito, porque sei que consegui sobreviver a mais um dia, mas isso não está sendo o suficiente, não está me sustentando.
Hoje tirei o dia pra sumir quase que totalmente. Perto do horário do almoço foi me dando aquela tão conhecida de dor de cabeça, senti que era o dia de eu me encolher e ficar pequenininha, debaixo de um cobertor gigante, mas é que eu não sou mais tão pequenininha, então fui a luta fazer as coisas da minha rotina, e uma a uma foi caindo por terra, tudo dando errado. Era um dia daqueles que dá vontade de dar um basta em tudo, em dizer que não quero mais compromisso com o meu namoro, com minha faculdade, meus amigos, minhas contas, quero todos bem longes de mim, porque nenhum deles anda me fazendo bem, são pra mim apenas um somatório de cobranças e exigências que eu ando saturada, porque nada anda pra frente, pelo contrário, me puxam cada vez mais pra baixo daquele cobertor gigante.
Não quis muita coisa hoje, aliás não quero muita coisa todo dia, só pedi pelo meu cantinho, um alguém me dando um leite quente com mel (e eu nem gosto muito de leite), só porque isso me parece um gesto tão carinhoso, tão compreensível. Mas depois eu quis coisa demais, quis dizer pra aquelas pessoas que falam que um dia se perde e outro se ganha, que eu ando perdendo todo dia, e cada dia mais, que eu não ando ganhando nada.
Depois liguei pra minha vó, só porque isso me faz sentir no colo dela, talvez porque ela foi a única que sempre me deu colo apesar da idade, chorei e continuo chorando por angústia de uma vida sem sentido, que não toma rumo, mas agradeci, isso ao menos me motiva a escrever, me faz sentir meio Tati Bernardi, querendo falar as coisas que muitos pensam, mas ninguém diz ou escreve, só porque não é poético, não é coeso. Que se dane tudo isso. Escrevi mesmo assim, mesmo querendo falar tudo, mesmo sabendo que um texto nunca pode fugir do seu tema, mas o tema é meu, eu sou o tema, e fujo pra onde eu quiser, exceto de mim mesma, isso ainda não consigo.
Por fim, talvez o que me alegraria hoje, era um eu te amo, mesmo que confuso, não muito certo desse amor de qualquer pessoa menos provável, talvez alguém perguntar sobre o meu dia, mesmo que com desinteresse. Só por hoje eu fugi bem pra longe, pra ver quem corria atrás de mim, mas olhei pra trás e não vi nada mais do que o espelho do meu quarto.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Maniosas

E depois que pensamentos individualistas passam pela minha cabeça, fico pensando no que eu quero e no que eu tenho, claro que conheço muito bem aquele ditado do 'nem sempre temos o que queremos', mas que saco iso também. Fico me analisando, e vendo tanta coisa que eu queria mudar em mim mesma e não consigo, enfim, nada deu muito certo em mim. A começar pelas unhas dos meu pés, que por conspiração da natureza resolvem sempre me encomodar nos cantos, apertando qualquer calçado que eu uso. Meu pé em si já é uma conspiração. Pé estranho, um dedo maior que o outro desproporcionalmente, nem parece pé de menina. Mas eu me esforço, pinto as unhas de vermelho, tatuo um lacinho, e pronto! Até que parece um pé de menina.
Mas essa mania de querer viver incessantemente? Que coisa incômoda, é um querer correr pelo mundo a fora, não querer parar em casa, e provar da vida apenas a noite, porque as manhãs são apenas um momento pra descansar, mas a noite sim, essa pra mim poderia ser sempre o começo do dia. Mas isso não dá pra mudar, posso tentar melhorar a feiura do meu pé, mas não posso melhorar ao meu gosto o sistema da vida.
É tanta mania que eu até me deprimo, tanta gente como manias tão brandas e eu tinha logo que nascer assim.
Esse meu jeito de querer a verdade, nada mais que a verdade, não é senso de sinceridade, é mania de perfeição, e vou por ai forçando tanto a verdade dos outros que acabo mentindo pra mim mesma, achando que a perfeição pode existir. Mas no fim o que resiste é apenas minha frustração, de não ser perfeita, mas de ao menos ser verdadeira.
O cabelo eu forço pra acertar, não é liso, não é crespo, não é cacheado, que porra de cabelo é então? Cabelo de gente errada. Cabelo que se passa a chapinha espiga, se não passa encolhe.
Mas de todas as coisas que sairam errada em mim, o que mais incomoda é coração, que nunca aprende a amar, que nunca se contenta e mal se sustenta. É uma mania de querer estar sempre se apaixonando, mesmo que pela mesma pessoa, mesma coisa, ou não, e quando isso não acontece, já se frustra, já se zanga, coração errado. Ainda acabo com o coração de alguém de tanto querer acabar com o meu. Na verdade, eu ultimamente tenho acabado com o meu coração, de tanto me doar pros outros. Essa é mania que eu nunca perco. Mas o que me conforta é que sei que pelo mundo existem outras Camila's como eu, se doando demais, pertubadas com tudo a sua volta, todas umas maniosas.